“Mulheres vivas!” ecoa no DF em ato que cobra ação urgente contra feminicídios

Sob forte chuva, milhares de mulheres, ativistas e apoiadores ocuparam o centro de Brasília neste domingo (7) no ato Levante Mulheres Vivas, manifestação nacional realizada simultaneamente em diversas capitais para denunciar o avanço da violência de gênero e a escalada de feminicídios no país. O protesto na capital reuniu movimentos sociais, coletivos culturais, representantes do governo federal e lideranças populares, que transformaram a Torre de TV em palco de discursos, performances e pedidos urgentes por políticas públicas eficazes.

No Distrito Federal, a rimadora e assistente social Elisandra “Lis” Martins emocionou o público ao encerrar sua apresentação com a frase: “Querem nos manter de bocas fechadas, mas nem a morte irá nos calar. Mulheres vivas!” A integrante da Batalha das Gurias denunciou em suas linhas a sobreposição de violências enfrentadas por mulheres negras e periféricas do DF, destacando que sobrevivem em territórios marcados pela vulnerabilidade social e pela ausência do Estado.

O ato também contou com a presença de seis ministras do governo federal, deputadas federais e da primeira-dama Janja Lula da Silva, fortalecendo a dimensão nacional do movimento. Em outras capitais, como Rio de Janeiro e São Paulo, manifestações simultâneas reforçaram o impacto do Levante.

Violência processual e negligência do Estado foram alvos de críticas

Entre as falas mais contundentes, a doutora em Ciências Sociais Vanessa Hacon, do Coletivo Mães na Luta, afirmou que o sistema de Justiça reproduz violência contra mulheres ao negligenciar pedidos de proteção e responsabilizar as vítimas. Segundo ela, medidas protetivas são frequentemente negadas ou retardadas, mesmo em situações de risco iminente.

A militante do Movimento Negro Unificado (MNU), Leonor Costa, destacou que a raiz estrutural da violência está no patriarcado e na forma como relações de poder foram organizadas no país. Para ela, a atual “epidemia de feminicídios” só será combatida com políticas públicas consistentes e com ações de educação que envolvam toda a sociedade.

Participação masculina, orçamento público e educação foram pautas centrais

Apesar de majoritariamente formado por mulheres, o ato contou com a presença significativa de homens, chamados pelas lideranças a refletirem sobre masculinidades e seu papel no enfrentamento da violência. A escritora e cineasta Renata Parreira, do Levante Feminista contra o Feminicídio, enfatizou que não há combate efetivo sem orçamento público, equipes qualificadas e pesquisa que fundamente políticas de prevenção.

A empreendedora Aline Karina Dias, de São Sebastião, ressaltou a relação entre violência e dependência financeira, defendendo o empreendedorismo feminino como ferramenta de emancipação e proteção.

Onda recente de feminicídios motivou mobilização nacional

A convocação do Levante Mulheres Vivas ocorreu após casos de extrema violência que chocaram o país, incluindo:

  • o atropelamento e arrastamento que mutilou Tainara Souza Santos;

  • o assassinato de duas servidoras do Cefet-RJ;

  • o feminicídio da cabo do Exército Maria de Lourdes Freire Matos, encontrada carbonizada em Brasília.

Os dados reforçam a urgência: segundo o Mapa Nacional da Violência de Gênero, 3,7 milhões de brasileiras sofreram violência doméstica no último ano. Em 2024, foram 1.459 feminicídios — média de quatro mulheres assassinadas por dia. Em 2025, o país já ultrapassa 1.180 casos.

Com informações da Agência Brasil

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