Servidores em guerra disputam sindicato na Câmara Legislativa

Por Ana Paula Alves

O que deveria ser um símbolo de união na luta pelos direitos e carreiras dos servidores transformou-se em motivo de discórdia na Câmara Legislativa do Distrito Federal. Enquanto debates e votações se desenrolam no plenário, nos bastidores uma verdadeira guerra toma forma, com servidores disputando quem vai comandar o sindicato da Casa pelos próximos dois anos. A eleição para a diretoria do Sindical, marcada para 6 de novembro, tem duas chapas na disputa.

Mas, muito além da mera competição eleitoral, a briga envolve uma teia de atores e interesses. Como na história da Torre de Babel, em que a multiplicidade de línguas levou à fragmentação e à perda da capacidade de comunicação, os servidores do Legislativo abandonaram a luta coletiva e seguiram caminhos distintos.

Hoje, pelo menos quatro associações coexistem — cada uma defendendo interesses específicos e setoriais. Elas representam as diferentes categorias da Casa, separadas, em tese, conforme o nível de escolaridade ou a natureza do cargo ocupado, quase como castas. E não se trata apenas de divisão entre cargos ou funções: há também um embate geracional, entre antigos e novatos. Uma disputa por espaço e poder que pouco se imaginava nos tempos em que o sindicato enfrentava parlamentares para garantir a realização do concurso público. Além das disputas internas na CLDF, a corrida sindical envolve ainda cerca de 500 aposentados e, em menor número, servidores do Tribunal de Contas do DF.

O resultado dessa fragmentação é o silenciamento de vozes que, juntas, um dia ecoaram com força política — uma das maiores do Distrito Federal, considerando a proximidade com parlamentares e a própria Casa de Leis. O sindicalismo, que deveria ser instrumento de unidade, cedeu espaço à dispersão, revelando o enfraquecimento da representação coletiva e um sindicato morto, hoje apático e pouco combativo.

É princípio básico da formação sindical que a união dos trabalhadores é a origem do movimento de luta por seus direitos. Na contramão dessa lógica, os servidores do Legislativo enfraqueceram o peso político de suas reivindicações. A atuação tímida da entidade nos últimos anos é prova disso.

Entre as diversas associações, somente o sindicato é considerado representante legal das categorias — o que explica a briga pelo comando. O resultado do pleito dirá quem terá força real para liderar a categoria e reconstruir um sindicalismo que perdeu voz e prestígio. Em meio a castas e rivalidades internas, o desafio será transformar a Babel dos servidores em um idioma comum: o da unidade e da representatividade, essência do verdadeiro sindicalismo.

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