Descarte irregular já provocou ferimentos graves e risco de contaminação; SLU alerta para aumento nos acidentes
Nos últimos 21 meses, 1,3 tonelada de canetas emagrecedoras usadas foi descartada de forma incorreta no Distrito Federal. Em vez de serem entregues em farmácias ou unidades de saúde, como determina a legislação sanitária, elas estão sendo jogadas no lixo comum e recolhidas pelo Serviço de Limpeza Urbana (SLU). Só em 2024, 781 quilos foram coletados pelo sistema. E até setembro deste ano, outros 500 quilos foram parar nos recicláveis, o equivalente a 36 mil unidades de medicamentos com agulhas.
O descarte irregular já gera consequências graves: acidentes com garis e cooperados que lidam diariamente com materiais potencialmente contaminados. De janeiro a agosto de 2025, o SLU registrou 98 acidentes envolvendo materiais perfurocortantes — número que corresponde a 77% de todos os casos de 2024 e que deve aumentar até 3% neste ano.
Risco invisível e rotina interrompida: ferimentos mudam a vida dos trabalhadores
O caso mais recente ocorreu no dia 31 de outubro, quando a cooperada Geane Francisca Lima, 42 anos, se feriu ao manusear recicláveis. Uma caneta emagrecedora ficou presa na luva e perfurou seu dedo.
“Doeu muito, sangrou na hora. A gente nunca sabe o que pode ter naquela agulha”, contou. Encaminhada ao Hospital Regional do Guará, ela iniciou imediatamente o protocolo de prevenção contra HIV e hepatites.
Mesmo com recomendação de afastamento, Geane voltou ao trabalho no dia seguinte. “Eu ganho por diária. Se eu faltar, não recebo. Minha mão inchou, ficou roxa, mas voltei. É preciso que as pessoas tenham consciência.”
Presidentes de cooperativas parceiras confirmam a chegada frequente de canetas emagrecedoras misturadas aos recicláveis. Em alguns dias, chegam de três a cinco quilos de uma só vez. Mesmo com luvas reforçadas, o risco permanece alto.
O que diz a legislação: resíduos perfurocortantes têm destino obrigatório
A Resolução nº 222/2018 da Anvisa classifica canetas usadas e agulhas como resíduos perfurocortantes, exigindo acondicionamento rígido e destinação adequada. A Secretaria de Saúde confirmou que possui empresa contratada para recolher e incinerar esse tipo de material conforme as normas sanitárias.
Para a diretora técnica do SLU, Andreia Almeida, o erro no descarte é comum, mas extremamente perigoso.
“Esses materiais precisam ser levados a UBSs ou farmácias. Eles não podem entrar na coleta seletiva. O problema não é o peso, é o risco: um único furo pode gerar contaminação e trauma psicológico.”
Multas, fiscalização e conscientização
O descarte inadequado pode gerar autuações do DF Legal. Condomínios já foram multados por armazenar de forma irregular materiais perfurocortantes. Em muitos casos, após a multa, os resíduos passaram a ser separados corretamente e os condomínios até receberam certificações ambientais.
O SLU reforça a importância da conscientização. Mobilizadores ambientais percorrem regiões administrativas para orientar moradores, e o aplicativo SLU Coleta DF oferece instruções sobre o descarte correto dos mais variados materiais.
A professora Amanda Antunes, usuária de liraglutida e semaglutida, conta que também já descartou canetas no lixo comum, mas mudou o hábito após alerta do marido, que é químico. “Percebi que poderia ferir alguém e causar contaminação. Hoje, levo as canetas e agulhas para farmácias que recebem esse tipo de material.”
Guia de descarte seguro: como evitar acidentes graves
— Canetas e agulhas: devem ser armazenadas em caixas rígidas ou de papelão e entregues em UBSs ou farmácias;
— Vidros quebrados: precisam ser embalados em jornal ou caixas antes do descarte;
— Espetos, garfos e tampas cortantes: devem ser colocados em garrafas PET;
— Algodão e gazes com sangue: devem ser embalados em sacos plásticos separados;
— Medicamentos vencidos: precisam ser devolvidos às unidades básicas de saúde.
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