Reportagem da Record revela impulsionamento de quase 800 publicações e denúncias da senadora Damares Alves sobre possível uso político da máquina pública
Uma reportagem exibida pelo Jornal da Record trouxe à tona documentos oficiais que indicam um forte aumento nos gastos de comunicação da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) durante a gestão de Ricardo Cappelli, presidente da entidade desde fevereiro de 2024. Os dados motivaram pedidos de explicação da senadora Damares Alves (Republicanos-DF), que questiona um possível uso de recursos públicos para autopromoção e ações de caráter político-eleitoral antecipado.
Segundo a reportagem, em setembro de 2023 Cappelli assinou um aditivo de contrato prorrogando por mais 12 meses os serviços de uma grande agência de comunicação. Em fevereiro de 2024, um segundo aditivo elevou os valores em 25%, totalizando mais de R$ 8,1 milhões.
Gastos aumentaram de R$ 115 mil para R$ 560 mil por mês
Dados do Portal da Transparência analisados pela emissora mostram que:
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Antes de Cappelli (out/2022 a fev/2024):
Pagamentos à agência somaram quase R$ 2 milhões, com média mensal de R$ 115 mil. -
Durante a gestão de Cappelli (fev/2024 a set/2025):
Os valores chegaram a quase R$ 11 milhões, média mensal de R$ 560 mil.
O aumento percentual é de 386%.


A agência contratada é uma das maiores do país e especializada em gestão de redes sociais para órgãos públicos, empresas e figuras políticas.
Impulsionamento de quase 800 publicações
A reportagem da Record também apresentou um relatório de uma empresa especializada indicando que, entre agosto de 2023 e outubro de 2025, Ricardo Cappelli impulsionou quase 800 publicações em diferentes plataformas digitais, com:
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gasto estimado: R$ 188 mil
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alcance total: 29 milhões de impressões

Algumas publicações tinham teor político e ataques a adversários.
Até fevereiro deste ano, o número cadastrado para os anúncios era o do jornalista Bruno Trezena, gerente de comunicação da ABDI e ex-assessor da deputada federal Jandira Feghali (PCdoB).
Posteriormente, os dados foram substituídos por Marcelo Antônio da Silva Bastos, apontado como responsável por um dos e-mails usados no impulsionamento.
A página de Cappelli no Facebook possui 11 administradores, padrão comum para perfis geridos por agências de comunicação.
Senadora Damares pede apuração e cita possível estrutura paralela
Diante dos dados, a senadora Damares Alves protocolou:
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um requerimento de informações no Senado, e
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um pedido via Lei de Acesso à Informação (LAI) ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
Ela quer explicações sobre o possível uso da ABDI como estrutura paralela de comunicação para fins eleitorais.
“Se for verdade, Ricardo Cappelli pode responder administrativamente e por atos de improbidade”, declarou.
O material será enviado também à Controladoria-Geral da União (CGU).
Deputado distrital também cobra detalhes
O deputado distrital Daniel de Castro protocolou pedido de informações solicitando:
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folha de ponto
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registros de frequência
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autorizações de trabalho externo
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deslocamentos oficiais
O parlamentar questiona por que Cappelli faz publicações políticas durante horário de expediente.
Para ele, há indícios de “campanha antecipada”.
Especialista vê possíveis irregularidades
O advogado Arthur Rollo, especialista em Direito Público, ouvido pela reportagem, afirmou:
“Quem se promove às custas do órgão público com dinheiro público pode incorrer em atos de improbidade administrativa e até em crime de peculato.”
Ele destacou que o aumento repentino e desproporcional de gastos pode indicar dolo.
