Relatórios revelam baratas em utensílios, esgoto exposto, infecções recorrentes e ocultação de problemas em duas unidades do DF
O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) ampliou as investigações contra a creche Casa da Nanny, no Sudoeste, após constatar que a empresa mantinha o funcionamento irregular em outro endereço na Asa Sul, mesmo após autuações, interdições e denúncias de risco às crianças. As informações fazem parte do Inquérito Civil conduzido pela 4ª Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor (Prodecon).
De acordo com o MP, a unidade do Sudoeste operava sem autorização da Secretaria de Educação e acumulava registros graves: infiltrações, mofo, móveis deteriorados, esgoto exposto próximo à cozinha, ausência de ventilação, materiais mofados, alimentos estragados e presença constante de baratas — inclusive dentro de utensílios, alimentos e até do filtro de água. Relatórios técnicos também registram forte odor de esgoto e inadequação completa da estrutura do subsolo onde a creche funcionava.
Testemunhos e documentos apontam que dezenas de crianças, de 6 meses a 4 anos, enfrentavam recorrentes episódios de diarreia, vômitos, febres e infecções bacterianas. Funcionárias relataram sobrecarga de trabalho, acúmulo de funções e orientações internas para impedir a entrada dos pais, além de tentativas de “mascarar” o problema — como substituir o termo “barata” por apelidos para que as crianças não comentassem com seus responsáveis.
Segundo o MPDFT, os responsáveis pela operação tinham plena ciência das irregularidades e optaram por manter as atividades por “interesse econômico”. Foram identificados:
Gabriel Alves Asevedo Oliveira (sócio-proprietário e gestor);
Daniella Asevedo Oliveira Alves (sócia de fato e administradora);
Camila Gomes Macedo Santos (diretora operacional e pedagógica);
Helio Edson Alves e Silva (sócio de fato e responsável pela manutenção).
Mesmo após a repercussão da unidade do Sudoeste, o grupo continuou atendendo irregularmente na SEPS 707/907, sob o nome Escola Colibri Kids, também sem autorização. A nova unidade foi interditada após atuação do MPDFT e de órgãos distritais.
A Vigilância Sanitária autuou a Casa da Nanny diversas vezes desde abril de 2024. O Conselho Tutelar registrou advertência formal sobre risco às crianças e alta incidência de infecções intestinais. A creche foi interditada oficialmente em 23 de maio — e já havia sido interditada também em 2023.
Investigações e denúncia criminal
Além do Inquérito Civil, o Ministério Público ofereceu denúncia contra os responsáveis pelos crimes de:
– maus-tratos;
– crimes contra as relações de consumo;
– submeter criança a constrangimento;
– associação criminosa.
A Promotoria apontou agravantes como violação de dever, vantagem econômica e vítimas especialmente vulneráveis. O processo criminal segue sob sigilo, e mais pais e ex-funcionários continuam procurando o MPDFT e a Polícia Civil para relatar situações vivenciadas nas unidades.
O MPDFT mantém diligências sobre possível alteração de razão social e reorganização societária feitas durante a investigação, supostamente para tentar driblar a fiscalização.
Com informações do MPDFT
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