Mensagem “Calma! Aqui tem sonhos, crianças e famílias” foi colocada no telhado da ONG Nóiz após episódios de tiros vindos de helicópteros
Para chamar atenção das autoridades e proteger os moradores durante incursões policiais com helicópteros, a ONG Nóiz, localizada na Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, instalou uma faixa com a mensagem “Calma! Aqui tem sonhos, crianças e famílias”. O aviso foi colocado no último dia 24, no telhado da sede da organização, situada na área conhecida como Karatê-Rocinha 2, poucos dias antes da Operação Convenção, realizada pelo governo estadual.
A iniciativa surgiu após anos de tensão e medo na comunidade, considerada uma das regiões mais perigosas da capital fluminense devido aos constantes confrontos. O presidente da ONG, André Melo, contou que a sede já foi atingida por disparos vindos de helicópteros, que chegaram a destruir uma caixa d’água há quatro anos.
“Precisávamos chamar a atenção de alguma maneira para dizer que aqui tem famílias, crianças e sonhos. Sempre foi temeroso ser alvo de helicópteros, então colocamos a faixa para alertar as autoridades”, afirmou Melo à Agência Brasil.
Atualmente, a ONG atende cerca de 250 crianças cadastradas e recebe em média 120 pessoas por dia, entre jovens e adultos. O espaço funciona de segunda a sábado, das 8h às 18h, oferecendo atividades como dança, balé, teatro, jiu-jítsu, reforço escolar, além de um projeto de alfabetização chamado Soletrar e uma lan house social com acesso gratuito à internet.
O local também abriga biblioteca comunitária, atendimento psicológico e terapeuta ocupacional para oito crianças autistas. Aos sábados, o projeto Sábado do Acolhimento reúne de 40 a 50 crianças em atividades lúdicas, além de pré-vestibular social e plantão de assistência social.
Segundo Melo, a faixa é uma tentativa de evitar tragédias como as que marcaram a Operação Convenção, ocorrida no dia 28. Ele acredita que o gesto pode inspirar outras comunidades:
“Não sabemos se isso é eficaz, mas qualquer tentativa de sensibilizar e diminuir o medo é válida.”
O publicitário transformado em empreendedor social lamenta que o Estado ainda negligencie as favelas:
“Faltam referências para as crianças e jovens. Há uma fila de espera enorme de famílias querendo colocar os filhos aqui. O Estado precisa enxergar as comunidades com outro olhar.”
Com 15 colaboradores e dezenas de voluntários, a ONG Nóiz segue atuando como um refúgio de esperança e oportunidades em meio à violência. Para André Melo, o recado é simples:
“Mesmo que fosse só uma faixa branca escrita PAZ, já valeria a pena.”
